"Madre Teresa tinha o desejo de ser santa"

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A tradução das cartas polémicas permite compreender crises de fé

A canonização de madre Teresa de Calcutá aguarda por um milagre reconhecido para o processo poder prosseguir mas, enquanto não acontece, o padre Brian Kolodiejchuck percorre o mundo a divulgar o livro que coordenou e no qual a futura "santa" comenta as "crises" de fé.

O padre discorda desta interpretação e acusa a revista Time de ter feito uma leitura de Vem, Sê a Minha Luz - Os Escritos Privados da "Santa de Calcutá" que não é correcta e, de passagem por Portugal para promover o volume que reúne parte das cartas escritas pela madre, nega que a freira tenha alguma vez duvidado da existência de Deus. O que aconteceu foi que "teve uma revelação e depois perdeu o contacto". O postulador da "santa" considera que madre Teresa nunca duvidou da existência de Jesus, porque "para isso é necessário duvidar a nível intelectual de Deus e tal não aconteceu. A dado momento sentiu-se desorientada, refere-o numa carta, mas logo a seguir pedia desculpa a Jesus e confessava que não gostava dos seus sentimentos".

Questionado sobre se madre Teresa acreditava em vida que era santa, o padre Kolodiejchuck refere que "ela tinha o desejo de o ser e quando lhe perguntavam como se sentia respondia que não era nada de extraordinário porque a santidade está ao alcance de todos". Acrescenta que madre Teresa "dizia frequentemente que desejava essa graça de Jesus, ser santa, mas também afirmava que queria dar santos à Igreja". Confessa que pensa que a freira "acreditava que iria ser canonizada. As suas cartas mostram os aspectos profundos dessa santidade, e mesmo na Igreja se, ao princípio, achavam que era apenas uma pessoa boa, depois mudaram de opinião".

Quanto às cartas que compõem este livro não perfazerem a totalidade das que escreveu, o padre Brian diz que dariam para mais um livro igual mas que "estão aqui todas as que temos sobre o período da escuridão", ou seja, a parte da sua vida em que "Jesus não lhe enviou qualquer sinal sobre o seu trabalho, facto que lhe provocou imensa dor, pois tinha tido de Cristo a revelação da vocação." Quando chegou à Índia, "escreveu cartas comovedoras, que eram uma ajuda psicológica, tal como aconteceu a Teresa D'Ávila, porque também não revelava a sua experiência, nem falava na vida interior privada e do passado familiar. O foco que pretendia era no seu trabalho".

A particularidade de a madre Teresa se referir sempre a Jesus em vez de a Deus é explicada por ser "cristocêntrica. Jesus é o foco principal e, apesar de não existir explicitação da Santíssima Trindade, ela não a ignora. Está apaixonada por Jesus, a quem se ofereceu desde criança, diz que Jesus é o seu primeiro amor e estará concentrada n'Ele". Esta é, diz, situação muito frequente entre as freiras, "decidir ser esposa de Jesus crucificado".

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